quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Diminui o número de fumantes no Brasil



No final da década de 1980, os fumantes representavam 30% da população brasileira. Agora, este percentual caiu para 20% e os homens ainda são maioria nesse grupo.


Segundo uma pesquisa da Santa Casa de Misericórdia, do Rio, e da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), realizada em todos os Estados brasileiros com 3 mil pessoas, a partir de 14 anos, 66% dos brasileiros já fumaram em algum momento da vida e o uso diário do tabaco para essas pessoas começou com menos de 18 anos.


“Há dez anos, praticamente ninguém falava dos perigos do tabaco no Brasil.”

José Rosemberg comenta o atraso com que o Brasil entrou na luta contra o tabagismo. Com 30 milhões de fumantes, o país é pobre em estatísticas aprofundadas sobre o problema. A maioria dos estudos é feita com pequenos grupos. As pesquisas de Rosemberg estão entre as que trazem os dados mais alarmantes. Ele constata o aumento de doenças respiratórias, deformidades congênitas e alterações grosseiras no DNA em crianças cujos pais fumam. Pasmem: uma criança de apenas 10 dias já pode apresentar resíduos de nicotina na urina.



O médico e pesquisador José Rosemberg é um combatente das antigas. Seu inimigo, o cigarro. Nessa trincheira, o país entrou com atraso. No início, seu exército era de um homem só. O primeiro livro científico publicado no Brasil sobre o cigarro — Tabagismo: Sério Problema de Saúde Pública (1979) — veio com o nome dele na capa. “Há dez anos, praticamente ninguém falava dos perigos do tabaco no Brasil”, lembra.

À semelhança de destemidos recrutas, ele também tem uma condecoração para exibir na lapela. É o único latino-americano a receber a medalha Tabaco e Saúde, da Organização Mundial de Saúde (OMS). A diferença é que seu esforço é para evitar baixas. Oficial da linha de frente, José Rosemberg confronta-se diariamente com um cenário de destruição, mortes e muita fumaça.

O cigarro já invadiu inúmeros territórios e tragou um batalhão de vidas. Como em toda guerra mundial, os números espantam. “No mundo, morrem prematuramente 4 milhões de fumantes ao ano. Temos 1,2 bilhão de fumantes. Se você juntar a isso os 2 bilhões de fumantes passivos, então o tabaco é a pior epidemia que estamos enfrentando. Metade da população mundial sofre direta ou indiretamente os efeitos do cigarro”, alerta.

Como pertence à velha guarda, Rosemberg coleciona conquistas: a proibição da venda a menores, as frases e imagens de advertência nos maços e as restrições à propaganda que fizeram o cigarro bater em retirada das rádios e televisões. Do alto dos seus mais de 90 anos, José Rosemberg nem pensa em trégua. A cada nova pesquisa publicada, mais munição encontra para ir ao ataque. Para ele, ir para a reserva só mesmo quando for declarado o cessar-fogo, literalmente.

Na entrevista a seguir, Rosemberg fala da história do combate ao tabagismo e de suas pesquisas sobre fumantes passivos, sobretudo crianças — as maiores vítimas.

Quando a comunidade científica internacional despertou para o mal o cigarro faz à saúde?

José Rosemberg - A Organização Mundial de Saúde (OMS) aproveitou os documentos do Conselho de Pesquisas Médicas que saíram na Inglaterra, em 1951, chamados Tabaco ou Saúde, que mostravam, já naquela época, o perigo que o tabaco representava para as doenças pulmonares. Outro grande documento surgiu em 1959, nos EUA, chamado Relatório Therry, que era o ministro da Saúde. Ele apresentou um documento oficial com mais de 7 mil trabalhos americanos para tomar medidas antitabágicas. O impacto foi tão grande que 100 mil médicos deixaram de fumar.

E o senhor, como médico, chegou a fumar em algum momento de sua vida?

José Rosemberg - Ah! Eu fumei na mocidade... Quando comecei a estudar medicina e fui fazer minha pós-graduação na França, meu professor me dizia: “Você vai ser especialista em pulmão e fuma? Isso é uma vergonha!” (risos) Então parei de fumar naquela época.